RESPOSTA PARA A
GERAÇÃO IDIOTA DE ONTEM
QUE ZOMBA DA
GERAÇÃO NUTELA DE HOJE
Por Carlos Correia Santos*
Eu juro que tinha prometido a mim mesmo que não ia escrever sobre isso, mas vamos lá. Anda circulando por ai um texto hiper infeliz que afirma coisas toscas como: "ah na minha infância todo mundo tinha apelidos e todo mundo era feliz". Pra início de conversa, quem dá a você o direito de afirmar que TODO MUNDO ERA FELIZ NAQUELA ERA DE BANALIZAÇÃO DO RESPEITO AO OUTRO? Quem garante a você que todo mundo era feliz? Se você gozava de elementos de aceitação social (como ser branco, classe média e heterossexual) ou se você (mesmo não gozando desses elementos) se vendia para o pacto da convivência, vou te contar um segredo: não era assim pra todo mundo.
A questão basilar é que décadas atrás a estrutura de massacre sociorrelacional era muito mais cínica e incrustada e não havia possibilidade de combate real. Então, uma das poucas estratégias de sobrevivência que restavam era o riso amarelo, era o entrar na onda, era SOBREVIVER e fingir que tudo era colorido e divertido. E outra: não é porque você não sofreu que não se deva respeitar QUEM SOFREU. Não é porque alguém não foi abusado que se deva aplaudir e reverenciar os ABUSADORES. Parem de medir como forte quem aceita o inaceitável. Aceitar o inaceitável é, em essência, prova de grande fraqueza psíquica.
Eu, por acaso, fiz parte do rol dos que encontraram mecanismos de sobrevivência e segui. Eu,por acaso, não fui um dos que choravam escondidos no recreio (e eu abracei muitos colegas nessa situação e tentei lhes dar força). Eu, por acaso, consegui fazer das minhas tripas coração. Porque, caceta, NÃO ERA FÁCIL ser o pretinho, o neguinho, o fresquinho. Eu encontrei o meu jeito de erguer meu queixo, não deixar que ninguém me reconhecesse por apelidos e ser respeitado. Claro, virando, pelas costas, a mariquinha nega do nariz empinado. Mas na minha cara ninguém vinha com imbecilidades, não. Até porque, como diz Willy Wonka da Fábrica de Chocolates: "eu já fui criança, mas eu nunca fui pequeno".
Lembro com precisão do episódio em que um professor de física começou a me chamar de Pelezinho e eu, com 13 pra 14 anos, levantei o dedo e disse firme: "Pelezinho, vírgula. Meu nome é Carlos". E fui pra coordenação reclamar daquilo. Bastou pra NUNCA MAIS essa leseira do professor se repetir comigo.
Mas o meu exemplo não muda o fato de que, sim, muitos sofreram, não combateram e devem ser respeitados. Não muda o fato de que foram tempos de imensos desrespeitos sociais. Tempos em que chacotar o outro era modinha e senha para ser popular e fodão. Ora, tomem vergonha na cara. O que é errado não se torna certo em época alguma. Hoje, matar é crime? Ontem também era. E essas palhaçadas sociais mataram muitas autoconfianças. Hoje e sempre ser um idiota que se diverte diminuindo os outros é prova de podridão pessoal.
Fora tudo isso, comparar o ontem com o hoje tem outro fator de cretinice: ser jovem hoje infere em muitas dificuldades a mais que nos anos 70, 80, 90. As cobranças psíquicas sobre a juventude atual são muito mais cruéis. Na nossa juventude, seus otários, não eramos medidos por números de seguidores em mídia social, não precisávamos ser instagramáveis, não havia cardápios múltiplos de drogas vendidas na porta do colégio, não havia bala pra todo lado nos impedindo de chegar nas janelas, não havia essa quantidade enlouquecedora de conteúdos vindos de toda parte, o tempo todo sem parar, não estavam diagnósticados e catalogados cientificamente todos os muitos e seríssimos distúrbios e transtornos que hoje afetam a vida desde as mais primeiras idades.
Não comparem o hoje com o ontem de forma tão leviana. Antes ser geração nutela hoje que ser essa geração de lodo de ontem que além de continuar vomitando um sem fim de desrespeitos ainda se acha no direito de ser ridícula atualmente! O bullying não é assunto que deva ser tratado da forma irresponsável como esse texto canalha preconiza. Que o digam as vítimas dos muitos massacres em escolas que têm acontecido nos últimos anos. Ah mais um detalhe: essa geração tão fragilizada de hoje é filha justamente da geração doente que são vocês, seus babacas... Se vocês não foram decentes no passado, está na hora de aprender a ser! (NOTA: Não gostaram de ser chamados de idiotas, otários e babacas? Deixem de ser fricoteiros, então!)
*Carlos Correia Santos é Psicanalista em formação, Psicopedagogo (ABPP/PA 2020006), Musicoterapeuta (CPMT-PA 036/19)e Ludoterapeuta, com capacitação em Arteterapia, Terapia Cognitivo Comportamental, Terapia Neurocientífica e TDAH (Avaliação e Intervenção), especialista em Educação Inclusiva, especialista em Autismo, especialista em Saúde Mental e especialista em Educação Musical e Ensino de Artes. Pós-graduando em Transtornos Globais do Desenvolvimento e em Neuropsicologia.
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