NÃO TEMA: SOMOS TODOS PESSOAS COM ALGUM DESALINHO PSÍQUICO!

Por Carlos Correia Santos*

 

É curioso como saúde psíquica é algo ainda imerso em enorme desconhecimento social. Você aponta uma questão clínica como a psicose de humanizar animais e - de um modo geral - as pessoas se assombram, inquietam-se, exasperam-se e mesmo se ofendem. Isso é muito fruto da falta de informação geral. Seria muito bacana pensar em Educação Psíquica como uma matéria a ser mais trabalhada, assim como Educação Sexual, por exemplo. Os termos mais básicos da Psicanálise, por exemplo, foram sendo mal interpretados, distorcidos e usados de forma equivocada. E a coisa termina descambando sempre para a aversão reativa. "Tá me chamando de psicótico? Como você ousa? Quem é você pra falar isso? Essa sua fala é coisa de pessoa com algum problema". Isso, em essência, é o medo de ser maluco. A ideia de loucura se tornou pecha para muitas reações tensionadas. Inclusive, para maus tratos. Primeiro de tudo, é preciso entender que essa ideia geral de loucura é apenas ideia, um conceito bastante mal conduzido e usado para dominações cognitivas. Não existe normal em oposição ao louco. Primeiro porque nenhum de nós é normal. Normal é o que a norma dita. Qual ordenamento contém normas de como ser humano? Não existem ordenamentos nesse sentido em lugar algum. Segundo que ser louco é subjetivismo somente. Com plurais significantes. Muitos, inclusive, adoráveis.

Com relação à Psicose, vamos lá. Comecem arredando pra lá a imagem do famoso filme de Hitchcock. Aquilo de esfaquear friamente alguém no chuveiro é uma imagetização muito mais próxima da Perversão. Aprendemos com a Psicanálise que existem três estruturas clínicas básicas: a Neurose, a Psicose e a Perversão. A primeira é da ordem cotidiana. São desalinhos psíquicos em que não perdemos a noção de realidade e que, inclusive, contam com autocrítica. A obsessão por limpeza que leva à compulsão por arrumar, arrumar, arrumar e arrumar incansavelmente a casa, por exemplo. Obsessão é o pensamento muito recorrente e compulsão é o comportamento que resulta dessa obsessão. A pandemia do coronavirus inevitavelmente aumentará em nós a obsessão por desinfecção e a compulsão por lavar excessivamente as mãos. É possível ter essa neurose e saber que se trata de algo que revela um desalinho. Fazemos aquilo e sabemos que a coisa "não está muito legal". Freud nos afirma que SOMOS TODOS NEURÓTICOS. E é isso. E não há porque se afligir. É preciso cuidar quando a neurose se torna algo que nos limita, que nos tortura.

 


Já a Psicose é o desalinho em que perdemos a ponte entre real e imaginário. E não conseguimos ter autocrítica: humanizar coisas e bichos e crer numa relação de parentesco pode ser um exemplo. A psicose geralmente está associada ao delírio e à alucinação. Eis outros termos que assustam. Mas não é preciso se alarmar. O delírio é simplesmente uma noção alterada da realidade. Crer que as pessoas não gostam de nós sem uma base real de comprovação. Crer que somos perseguidos. Animar coisas inanimadas. Conversar com seres não conversantes. E alucinação é uma noção sensorial alterada: sentir cheiros que não são reais, ouvir barulhos que não reais, ver coisas que não existem de fato.Uma alucinação socialmente muito comum e aceita sem maiores preocupações é o chamado vulto. Crer que vimos algo dentro de casa. Psicoses também têm níveis. E, dependendo destes, requerem ou não intervenções.

Perversão é a estrutura mais preocupante. O perverso rompe com todos os conceitos de moralidade, ética, convivência social. Ele não sente culpa alguma e lega ao outro toda e qualquer culpa, responsabilidade. Age sem qualquer preocupação com as consequências e ultrapassa plenamente os limites de realidade ou imaginação. O assassino do chuveiro, no filme, é um perverso. Não é, em essência, um psicótico.

Na Psicanálise, todo ser humano tem algum problema psíquico. Isso porque todos nós reprimimos alguma realidade em algum momento da nossa infância. É preciso perder o temor com relação aos termos da saúde psíquica. Esse desconhecimento, aliás, tem permitido que perversos cheguem à presidência da república.

Você não faz mal a ninguém com sua neurose ou mesmo com a sua psicose? Você não vive status de auto-sofrimento? Então, vida que segue. Está tudo na mais santa e perfeita anormalidade, como era no princípio e será por todos os séculos e séculos... Amém.

*Carlos Correia Santos é Psicanalista em formação,  Psicopedagogo (ABPP/PA 2020006), Musicoterapeuta (CPMT-PA 036/19)e Ludoterapeuta, com capacitação em Arteterapia, Terapia Cognitivo Comportamental, Terapia Neurocientífica e TDAH (Avaliação e Intervenção), especialista em Educação Inclusiva, especialista em Autismo, especialista em Saúde Mental e especialista em Educação Musical e Ensino de Artes. Pós-graduando em Transtornos Globais do Desenvolvimento e em Neuropsicologia.

 

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