PRECISAMOS FALAR SOBRE ARTEPATIA

 

Por Carlos Correia Santos - Educador e Terapeuta

A Arte trata. A Arte cura. Sobre isso já se tem falado, estudado, pesquisado para além do bastante. Ainda bem. Tanto é que ai estão as ciências da Arteterapia e da Musicoterapia para solidificar esse entendimento. Mas o que não vejo se falar  - e isso é objeto de interesse científico tão relevante quanto o caminho tratativo - é que a Arte é também locus patológico. Ou seja, fazeres artísticos podem também ser vetores de e para doenças emocionais.  O presente texto é o primeiro passo que dou para tentar descrever e instigar estudos - que não sejam só meus - para o que vou arbitrariamente chamar de Artepatias: psicopatologias ligadas ao universo da Arte.

Talvez quem não esteja nos terrenos dos bastidores não saiba, não acesse, não tenha noção, mas há muito de ausência salutar em coxias, ateliers, escrivaninhas, salas de ensaio. Há muitos criadores que fazem de seus processos criativos platô para alimentar, experienciar, despejar, infiltrar, incutir, prolongar, disseminar suas neuroses, psicoses, parafilias. Os produtos que concebem, portanto, são expressões desses adoecimentos.  Não são apenas produções artísticas. São diagnoses de Artepatia. 

Artepatia, desta sorte, segundo o que proponho, é o estado de adoecimento psíquico que leva artistas  reconhecidos ou pessoas que querem ser vistas e entendidas como artistas a usarem a Arte para manifestar - consciente ou inconscientemente - suas fobias, manias, taras, desestruturações de comportamento, pensamentos paranóicos  e outras acepções de desalinhos emocionais, transformando essa(s) condição(ões) em produtos e processos criativos que causam ou agudizam dores,  angustias e traumas para eles mesmos e/ou para demais pessoas que façam parte desses processos. Mesmo que o público não tenha percepção ou noção disso ao receber a produção artística assim concebida, podendo ou não ser atingido pelos efeitos dessa circunstância insalubre.



Não é Arte como tratamento ou cura. É A Arte provocando ou acentuando estados de desajuste na Saúde Mental. O teatro, a música, a literatura, as artes plásticas são, como já comprovado por vasto referencial teórico, instrumentos interventivos, terapêuticos. Medicamentosos, por assim dizer.  Entrementes, como nos ensina a ciência farmacêutica, dependendo da dosagem, prescrição e ministração... remédios podem também causar moléstia.

É preciso aqui perceber que o artepata não é só um ególatra. Não se trata apenas de exacerbação de ego, excesso de vaidade. É mesmo patológico. Há sofrimento emocional. Vivido de forma pesarosa (adicta) ou prazerosa (sádica) pelo agente adoecido.

Proponho ainda que, de mãos dadas a Psicanálise, classifiquemos inicialmente as Artepatias em três grupos: a Artepatia Neurótica (o artepata neurótico vive uma condição de origem comportamental, não tem perdida a ponte com a realidade, mas, ainda assim, não consegue evitar seu status adoecido), a Artepatia Psicótica (o artepata psicótico vive uma condição neurodisfuncional que o faz perder a ponte com a realidade) e a Artepatia Parafílica (o artepata parafílico vive uma condição disfuncional originada em questões da sexualidade).  

Bem... Esse texto, como já sugeri, é só um intróito de um esquadrinhamento que pretendo fazer deste momento em diante. Vamos aos estudos! 

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Carlos Correia Santos é Psicopedagogo e Musicoterapeuta, especialista em Educação Inclusiva, especialista em Autismo, especialista em Saúde Mental, especialista em EDucação Musical e Ensino de Artes, Psicanalista em formação, pós-graduando em TGD - Transtornos Globais do Desenvolvimento.

 


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